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Permacultura: A estradinha de terra para uma vida mais sustentável

Atualizado: 26 de mai. de 2021


Perma o quê?” Possivelmente essa foi a sua reação ao ouvir pela primeira vez a palavra “permacultura”. Pois bem, antes de defini-la, vou propor um breve exercício de imaginação.

Imagine viver em um lugar onde as pessoas compartilham uma ética do cuidado com a Terra e levam um modo de vida materialmente simples, porém pleno de significado. Um lugar onde as habitações são energeticamente eficientes e construídas com materiais naturais. Onde a água da chuva é captada nos telhados e os esgotos são remediados em filtros biológicos que mais parecem jardins. Onde boa parte da comida é produzida localmente em hortas agroecológicas e florestas de alimentos. Onde as sobras alimentam a terra que alimenta as plantas, bichos e gentes. Onde a mata nativa foi restaurada e pode ser contemplada das janelas...


Imagine um lugar onde outras necessidades básicas são supridas por uma rede local de pequenos negócios que utilizam de forma racional e equilibrada os recursos da biorregião. Onde a moeda local e o banco comunitário mantém a riqueza circulando na comunidade. Onde as decisões importantes são tomadas coletivamente pelo consenso, e os conflitos (sim, há conflitos! Sempre há conflitos!) são mediados por estratégias de escuta ativa e comunicação não violenta. Imagine poder acompanhar de perto os ciclos da natureza e participar ativamente deles, criar e manter ambientes abundantes e compartilhá-los com outros seres, humanos e não humanos...


Nossa! É o paraíso? ...Calma! Nesse exercício de imaginação, é importante lembrar também que aquela horta maravilhosa não conhece feriado ou fim de semana. Que as paredes de barro da casa precisam de reparo e, vez por outra, não vai dar pra curtir aquela praia. Que desentupir aquele lindo sistema ecológico de esgoto pode ser uma tarefa não muito glamourosa. Que revirar a pilha de composto talvez perca a graça depois da terceira vez...

Imagine que a vida comunitária é mais desafiadora do que parece e que será inevitável uma “treta” de vez em quando. Que nem tudo que você acha que precisa será produzido localmente, de modo 100% ecológico e socialmente justo. Imagine que a maioria das pessoas que vivenciam outras realidades ainda não tem acesso ao básico; e outra boa parte vai deliberadamente rejeitar essa proposta de vida simples. Que apesar de todo o esforço, tudo que você vier a fazer ainda estará longe de ser suficiente...



Imagine que, mesmo assim, você escolha vivenciar tudo isso, pois você sabe que, mesmo sendo insuficiente, talvez seja o que está ao seu alcance no momento e o que você está sinceramente disposto a fazer.


Pois bem, esta realidade bela, mas imperfeitamente humana vem pouco a pouco ganhando forma em diversos cantos do planeta. Criada nos anos 1970 pelos australianos Bill Mollison e David Holmgren, a palavra “permacultura” (do inglês permanent agriculture) foi utilizada pela primeira vez para se referir a um sistema de produção de alimentos inspirado nos ecossistemas naturais, sem uso de adubos químicos ou agrotóxicos. O conceito logo se expandiu para outras dimensões das necessidades humanas tornando-se uma ferramenta valiosa para o planejamento e a construção de realidades parecidas com a qual acabamos de imaginar.

Atualmente a permacultura pode ser definida como uma metodologia de design de assentamentos humanos de baixo impacto (ou baixa demanda energética) que integra produção agroecológica, construções naturais e energeticamente eficientes, tecnologias sociais para abastecimento d’água e reuso de efluentes, reciclagem local de resíduos, bem como estratégias econômicas e de organização comunitária.

O conceito tem se difundido rapidamente pelos cinco continentes, envolvendo uma rede mundial de pessoas e grupos que compartilham uma ética comum do cuidado com a Terra, cuidado com as pessoas e partilha justa dos excedentes.

Distanciados das noções ingênuas de sustentabilidade, os formuladores e praticantes da permacultura estão atentos à grande probabilidade de colapso do atual modo de vida urbano/industrial, apesar dos esforços de governos e mercados. Assim, com o pé no chão e o olhar no horizonte, buscam instrumentalizar as pessoas e suas comunidades com habilidades que lhes permitam se adaptar a um futuro contexto de decrescimento demográfico e energético. Não se trata ainda de um modo de vida genuinamente “sustentável”, mas de uma estratégia de transição para uma sociedade futura que ninguém sabe ao certo como vai ser.

Exatamente por ser incompleta e imperfeita, a permacultura não deve ser encarada como um caminho único rumo à tão distante e sonhada “sustentabilidade”. Creio que, no contexto em que vivemos, todas as frentes de ação são fundamentais: da política institucional aos processos de autoconhecimento, da ciência engajada às lutas dos movimentos sociais, do ativismo digital ao consumo consciente... Na autoestrada do “progresso”, que nos leva velozes rumo ao abismo, talvez a permacultura represente apenas uma das várias estradinhas de terra que levarão a algum outro lugar, mais equânime e abundante. Essa estradinha tem seus percalços, mas é cheia de vida, amizade e beleza, e pode ser extremamente gratificante percorrê-la. Vamos nessa?




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